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Tuesday, September 27, 2005

DOS GRAUS DE ACOMODAÇÃO DA DIVINA VERDADE INFINITA

A Palavra contém dentro de si um sentido interno que não transparece em seu sentido literal. A natureza deste sentido interno tem sido largamente revelada nos Arcanos Celestes, começando com o primeiro capítulo de Gênesis, assim como em muitos outros lugares nos Escritos em geral.
Todavia, as verdades Divinas são tais que elas não poderiam ser compreendidas por algum anjo, ou por algum homem (pois elas ultrapassam até mesmo a compreensão angélica e, com mais forte razão, a humana compreensão) senão por meio de aparências de verdade, as quais são acomodações da Divina e infinita verdade à compreensão dos anjos e dos homens. A conjunção com o Senhor acontece através desses veros naqueles que pertencem ao Seu reino, tanto no céu como nas terras.
Com os anjos, esta conjunção se dá através de aparências de verdade de um grau elevado (isto é, pelas aparências de verdade do sentido interno da Palavra); com os homens, por meio das aparências de verdade em um mais baixo grau (vale dizer, pelas aparências de verdade do sentido externo da Palavra). Este é a matéria contida nos sentidos internos de Gênesis 20 e 26, sobre as quais falaremos sucintamente adiante. Mas porque essas aparências contêm o Divino inefável ele mesmo no seu íntimo, são chamadas também verdades.
A mente humana finita não pode conter a Mente Divina infinita, assim como um simples vaso de barro, onde se põe água, não pode conter o Oceâno Atlântico. O materialismo cientificista e o orgulho racionalista de nossos dias imagina que a ciência terá todas as respostas, e decifrará todos os enigmas do universo, como se a mente humana fosse onisciente. Mas todo bem e verdade que há no homem, assim como todo o progresso da ciência e da civilização, não teriam sido possíveis se do céu não proviessem.
Os capítulos 20 e 26 de Gênesis narram episódios muito parecidos que aconteceram com personagens diferentes: Abraão e Isaque. No capítulo 20, Abraão peregrina em Gerar: E PARTIU dali para a terra do sul, e habitou entre Cades e Sur; e peregrinou em Gerar (Gen 20: 1). Pela peregrinação de Abraão em Gerar é entendido a instrução que o Senhor mesmo recebera na idade adulta acerca dos doutrinais concernentes à caridade e à fé. Anteriormente, na infância, o Senhor havia recebido instrução no que toca aos conhecimentos de memória apenas.
Antes da ida de Abraão a Gerar, ele tinha peregrinado no Egito, e sua passagem por lá representava a progressão do Senhor, enquanto criança, nos conhecimentos de memória; ao passo que sua passagem por Gerar representa a progressão agora nos bens e nos veros da doutrina da fé. Cades tipifica a afeição da verdade interior que procede das coisas racionais; Sur, por sua vez, a afeição da verdade exterior que procede dos conhecimentos de memória. Gerar é a fé mesma. Os doutrinais da fé são os seus racionais mesmos, os quais são aparências de verdade acomodadas à percepção dos anjos e dos homens em diferentes graus.
Em todo homem da igreja existem as verdades racionais e as verdades de memória apenas. As primeiras, sendo mais interiores (portanto, mais espirituais), e as segundas, mais exteriores (portanto, mais naturais). Elas se constituem em duas distintas afeições da verdade: a primeira tem em Cades o seu representativo; a segunda, em Sur.
Já em Gênesis 26, lê-se a seguinte narrativa: E havia fome na terra, além da primeira fome, que foi nos dias de Abraão: por isso foi-se Isaque a Abimeleque, rei dos filisteus, em Gerar. E apareceu-lhe o Senhor, e disse: não desças ao Egito; habita na terra que eu te disser: habita nesta terra, e serei contigo, e te abençoarei; porque a ti e à tua semente darei todas estas terras, e confirmarei o juramento que tenho jurado a Abraão teu pai... (Gen. 26: 1-3)
O sentido interno deste capítulo concerne às aparências de verdade em três graus, e como estas estão juntas na Divina verdade numa ordem em que as Divinas verdades e seus doutrinais possam ser recebidos, a fim de que a igreja venha a existir. Por “Isaque ir a Abimeleque”, entende-se que do Senhor procede a doutrina que contempla as coisas racionais. Isaque é o Senhor quanto aos Divinos racionais. Contemplar os racionais significa que eles podem ser recebidos pelo anjo e pelo homem e reconhecidos como racionais.
Mas o racional é tal que não pode apreender as coisas Divinas, pois ele é finito. Daí a necessidade de aparências. As verdades Divinas são apresentadas perante o racional mediante aparências. E porque o Divino, que é o Senhor, está nelas, elas nos afetam, de onde vem a conjunção do Senhor com os anjos e com os homens.
“Não descer ao Egito”, no texto, significa que não devemos descer aos conhecimentos de memória, mas dirigir-se às coisas racionais que, sendo iluminadas pelo Senhor, são aparências de verdade. Por “habitar na terra que o Senhor disser”, entende-se a instrução da parte do Senhor, e pela “bênção do Senhor”, é entendida a multiplicação dos bens e dos veros espirituais.
A Divina verdade não pode influir imediatamente nos conhecimentos de memória, os quais são do homem natural, mas apenas através das coisas racionais pertinentes ao homem espiritual. Por isso, Isaque não deveria ir para o Egito, mas ir para a terra de Gerar. Do Divino do Senhor procedem todos os doutrinais da fé, e o Senhor é a doutrina mesma. O Senhor é também chamado a Palavra, e a Palavra é a doutrina.
No capítulo 26 de Gênesis, lemos o seguinte, nos versos de 12 a 17: E semeou Isaque naquela mesma terra, e colheu naquele mesmo ano cem medidas, porque o Senhor o abençoava. E engrandeceu-se o varão, e ia-se engrandecendo, até que se tornou mui grande; e tinha possessão de ovelhas, e possessão de vacas, e muita gente de serviço, de maneira que os filisteus o invejavam. E todos os poços que os servos de seu pai tinham cavado nos dias de seu pai Abraão, os filisteus entulharam e encheram de terra. Disse também Abimeleque a Isaque: aparta-te de nós; porque muito mais poderoso te tens feito do que nós. Então Isaque foi-se dali e fez o seu assento no vale de Gerar, e habitou lá.
Pelo que foi dito, a saber, que “Isaque semeou naquela terra”, entende-se as verdades do senhor aparecendo ao racional humano. A “bênção” significa o enriquecimento com os bens celestes e espirituais; o seu “engrandecimento”, a multiplicação dos bens e dos veros (ovelhas, vacas, servos etc). Pelos “poços”, que foram tapados pelos filisteus, é entendido aqueles que estavam no conhecimento de memória, os quais não estavam inclinados a conhecer as verdades interiores que procedem do Divino, e então as obliteram. É dito também que “encheram os poços de terra”, numa referência às coisas terrestres. Por “Abimeleque se dirigir a Isaque”, entende-se a percepção do Senhor nesta doutrina.
Lemos ainda em Gênesis 26, versos de 18 a 22: E tornou Isaque, e cavou os poços de água que cavaram nos dias de Abraão seu pai, e que os filisteus taparam depois da morte de Abraão, e chamou-os pelos nomes que os chamara seu pai Abraão. Cavaram pois os servos de Isaque naquele vale, e acharam um poço de águas vivas. E os pastores de Gerar porfiaram com os pastores de Isaque, dizendo: Esta água é nossa. Por isso chamou o nome daquele poço Eseque, porque contenderam com ele. Então cavaram outro poço, e também porfiaram sobre ele: por isso chamou seu nome Sitna. E partiu dali, e cavou outro poço, e não porfiaram sobre ele, por isso chamou o seu nome Reobote, e disse: Porque agora nos alargou o Senhor, e crescemos nesta terra.
Sobre o verso 18, “E tornou Isaque e cavou os poços de água que cavaram nos dias de Abraão seu pai”, isto significa que o Senhor abriu aquelas verdades que estavam com os antigos; “e que os filisteus taparam depois da morte de seu pai Abraão”, isto significa que aqueles que estavam nos meros conhecimentos de memória deturparam e torceram aquelas verdades; “e chamou-os pelos nomes”, significa a qualidade delas; “que os chamara seu pai Abraão” denota representativos de verdade.
E sobre os versos de 19 a 21, “Cavaram pois os servos de Isaque naquele vale, e acharam um poço de águas vivas”, isto significa o sentido literal da Palavra no qual está o sentido interno; “E os pastores de Gerar porfiaram com os pastores de Isaque”, significa que os que ensinam a Palavra não viram um tal sentido lá, porque os sentidos são opostos; “dizendo: Esta água é nossa”, significa que eles estavam na verdade; “Por isso chamou o nome daquele poço Eseque, porque contenderam com ele”, denota a recusa destes princípios tanto quanto de outros; “Então cavaram outro poço, e também porfiaram sobre ele”, siginica o sentido interno da Palavra, sobre se ele existe; “por isso chamou seu nome Sitna”, expressa sua qualidade.
No tocante ao verso 22, “E partiu dali”, significa que desceram para as coisas de um grau mais baixo; “e cavou outro poço, e não porfiaram sobre ele”: isso significa o sentido literal da Palavra; “por isso chamou seu nome Reobote”, denota sua conseqüente qualidade enquanto verdade; “Porque agora nos alargou o Senhor”, significa a multiplicação sucessiva da verdade; “e crescemos nesta terra”, isto significa a sucessiva multiplicação do bem.
Os versos de 1 a 6 de Gênesis 26, descrevem as aparências de verdade do mais alto grau, as quais estão no sentido interno da Palavra, e nas quais há a Divina verdade e o Divino bem. Estas, entretanto, não podem ser compreendidos e, portanto, recebidos, a menos por meio destas aparências.
Já os versos de 14 a 17, falam-nos de aparências de verdade de um grau inferior, as quais estão no sentido interno da Palavra, e nas quais estão os homens da igreja interna. Os versos de 18 a 25, por sua vez, falam de aparências de verdade de um grau ainda mais baixo, nas quais estão os homens da igreja externa. Através deste sentido, estes últimos podem ser conjuntos ao Senhor.
Dito de um modo mais conciso, podemos dizer, como já foi mencionado alhures, que as aparências de verdade possuem três graus, a saber, o celeste, o espiritual e o natural. Todavia, há desdobramentos em uma classificação mais minuciosa, como na que segue. No primeiro e no segundo graus da Divina verdade, está aquele que procede imediatamente do Senhor; ela está acima da compreensão dos anjos. Mas o terceiro grau desta Divina verdade é o que é compreendido pelos anjos do céu íntimo ou terceiro céu. Está para além da humana compreensão. A Divina verdade em seu quarto grau, é o que é percebido no céu médio ou segundo céu. Nem esta é inteligível ao homem.
Todavia, a Divina verdade em seu quinto grau, que é a que é apreendida no céu ínfimo ou primeiro céu, até pode ser compreendida pelo homem, mas em alguma pequena medida, e desde que seja iluminado pelo Senhor. Grande parte dela, no entanto, não pode ser expressa por palavras humanas.
Finalmente, só a Divina verdade em seu sexto grau, a qual está no sentido da letra, está acomodada à percepção do homem. Este sentido, ou esta verdade, é representada pela nuvem, e as verdades interiores, pela glória nas nuvens. É por isso que o Senhor sempre aparecia a Moisés na Nuvem (cf Ex 24:15, 16; 40:34, 35; 1 Reis 8:10, 11; Mt 24:30, e outros lugares). O aparecimento do Senhor significa o aparecimento da verdade, sendo o Senhor a verdade mesma. As “nuvens” denotam a acomodação à percepção. Pela “glória estar acima das nuvens”, é entendida a Divina verdade não acomodada à percepção, a qual encontra-se acima da falácia dos sentidos. A Deus toda a Glória.

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