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Tuesday, September 27, 2005

A PRÁXIS PROFÉTICA

Por entendermos que é um direito e um dever da entidade humana buscar a felicidade (e esta entendida como uma vida na inteligência, na sabedoria, na fé e no amor), concebemos, com vistas a se formar uma proposta de viabilização deste ideal, um programa de ação.
Tal programa consiste na criação de uma comunidade de trabalho constituída por homens livres e de boa vontade, que estejam ansiando pela instrução, sedentos da verdade, a fim de levar a cabo um plano de investigação, pesquisa em rede, estudos e debates, e que objetivasse a busca de um campo unificado de conhecimento, isto é, de uma síntese que unifique as ciências para a resolução de problemas complexos, e que também unifique ciência e religião.
A nosso primeiro passo deve ser, nas palavras de São Boaventura, o “suspirar por Ele (isto é, pelo Senhor) neste vale de lágrimas”, o que se traduz pela oração fervorosa, por um permanecer em Jerusalém, a cidade do Deus vivo, até que Deus derrame copiosamente seu Espírito, e nos faça compreender as Sua Palavra.
O Espírito de Deus nos conduz, pela razão, à uma investigação que procure apreender os vários pontos de vista, uificando-os (o que é uma habilidade e uma especialidade mesma da razão), isto é, descobrindo a unidade que os transcende, fazendo-os passar do conhecido ao desconhecido, do visível ao invisível, do finito ao infinito.
Este trabalho também se expressa pelo esforço em se discernir as coisas antigas e a sabedoria de Deus, a qual vem iluminando homens de todas as épocas e nacionalidades; até que alcancemos o conjunto de noções comuns s todos os sábios que, através da pesquisa, se encontram na mesma compreensão da causa das causas. Dito de outro modo, até cheguemos à gnose, à contemplação da verdade, à redescoberta da palavra perdida, da palavra de amor, vale dizer, do Verbo.
O trabalho de procura das pequenas e grandes sínteses leva em consideração, primeiramente, que a verdade é um sistema que pode ser comparado a um quebra-cabeça, cujas peças estão espalhadas nos diversos sistemas filosóficos e científicos. Segundamente, que a verdade coincide com o bom fruto e, portanto, com o bem mesmo, tal como já vimos em nosso primeiro capítulo.
O saudoso teólogo e naturalista Djalma Silveira Belieny, de abençoada memória, em sua obra Desvendando Mistérios do Mundo Científico, nos fornece um instrumental metodológico fundamental para este nosso programa de pesquisa. Ele nos adverte de que se as ciências estão intimamente relacionadas em um quadro hierárquico, e de que a liberdade de uma termina onde começa a da outra. (Cf. Djalma Silveira Belieny. Desvendando Mistérios do Mundo Científico. Rio de Janeiro, 1983.)
Neste quadro, a matemática está na parte inferior como a mais simples de todas as ciências e a menos complexa. Na parte superior deste quadro hierárquico está a teologia, a menos simples e a mais complexa. As ciências, dentro deste quadro, estão inter-relacionadas de baixo para cima neste ordem: matemática, física, química, biologia, ciências sociais e morais, filosofia e teologia. A investigação respalda-se num princípio universal básico, a saber, o de causa e efeito. A causa pode ser particular ou geral.
É sabido que o ser humano vive em dois mundos, o espiritual e o físico. Belieny, no entanto, acrescenta que cada mundo possui sua própria ciência. As ciências do universo físico são a matemática, a física, a química e a biologia, com as quais formam-se os problemas simples, que são solucionados pelo laboratório científico.
As ciências do universo espiritual, por seu turno, são as ciências sociais, as ciências morais, as filosóficas e as teológicas, com as quais formam-se os problemas complexos, que são solucionados pela mente científica. As ciências do mundo físico são chamadas, por Belieny, de físicas ou objetivas; as do espiritual, de espirituais ou subjetivas.
O resultado final de um problema do âmbito das ciências do universo físico tem que ser objetivo, obrigatoriamente, o que significa que precisa contar com todos os recursos das esfera material, isto é, análises químicas, computadores e etc. A solução de tais problemas estarão apenas dentro da esfera material.
Já os efeitos que são alcançados pela solução de um problema no âmbito das ciências espirituais, por sua vez, têm que ser espirituais e subjetivos, significando isto que têm que contar com todos os recursos espirituais ao seu alcance. Precisam entrar em sintonia com a Mente Divina, a qual é, ao mesmo tempo, mente criadora e mente científica.
De acordo com Belieny, na solução de complexos problemas, a mente científica, por meio da imaginação, a abstração e a generalização, penetra nos espaços do conhecimento empírico, científico, simbólico, metafísico e teleológico, os quais não estão ao alcance do laboratório e do computador.
A mente científica, assim equipada, toma como ponto de partida o último efeito de um complexo problema, realizando nele, a partir daí, uma jornada retrospectiva, através das causas e efeitos intermediários até, por eliminação, se chegar à causa primeira responsável pela problemática, a qual se constitui na única chave para desvendar o mistério todo.
Embora se diga que os problemas das ciências espirituais e subjetivas são resolvidos pela mente científica, isto não quer dizer que não existam, nestes, problemas da esfera material. De modo análogo, os problemas do âmbito das ciências físicas e objetivas, conquanto sejam resolvidos pelo laboratório cientifico, não dispensam a mente científica, pois todas as ciências utilizam a mente.
Ressaltemos aqui a diferença entre o laboratório científico e a mente científica. Entre uma e outra ciência, existe uma linha que as separa, cada uma delas exigindo um método diferente, de acordo com seu objeto e com sua esfera. Quando um problema é composto de muitas ciências, sua solução só pode ser alcançada pela mente científica através do método das ciências englobadas.
Propomos, para a concretização, portanto, deste projeto, a criação da Universidade das Luzes, entendendo que, ao contrário do que pensa a teologia reformada, o conhecimento regenera o homem, tendo eficácia salvífica, assim como também as obras (pois a fé é uma com as suas obras); entendendo, também, que é tarefa do homem de fé cumprir com seu dever cívico de fornecer respostas, alternativas e até soluções para as grandes questões e problemas do seu mundo, sendo isto uma obra profética e divina. A UNILUZ não será uma universidade no sentido convencional, mas, sim, uma corporação de estudiosos, pesquisadores e pensadores livres.
Esta organização, além de ser uma oficina de estudo e pesquisa que tentaria levar a bom termo o nosso programa, também funcionaria como uma espécie de centro aglutinador e de cultivo do espírito humano, da fraternidade universal, da doutrina dos apóstolos, da comunhão, do partir do pão e da oração.
Como o maior obstáculo para as pessoas se dedicarem à busca da felicidade no amor ao próximo, na inteligência, na sabedoria e na fé é a preocupação com o sustento físico, ressaltamos aqui a importância de se fomentar a universal fraternidade, e propomos como um meio concreto de viabilizá-la: a criação de um armazém popular, o qual atenderia, primeiramente, aos membros da confraria, de acordo com suas necessidades e, segundamente, à comunidade como um todo. A preocupação com o sustento de cada um, deve ser uma responsabilidade de todos. O lema é: “Um por todos, e todos por um”.
Este armazém popular poderia conter todo tipo de gênero de necessidade do homem: roupas, alimentos, mobílias, artefatos em geral e até dinheiro mesmo. Quando havia o Templo Sagrado em Israel, existia nele duas salas, a saber, uma para a caridade e outra para os utensílios. A sala da caridade chamava-se “Sala Secreta”, porque as pessoas de bom coração depositavam ali dinheiro para os que necessitavam, os quais tinham o direito de, sem que ninguém soubesse (para que não se envergonhassem), ir até ali e pegar o que fosse necessário para eles. Na sala dos utensílios, as pessoas depositavam objetos como oferendas ao Templo, os quais eram recolhidas pelos sacerdotes de acordo com as necessidades do seu serviço sagrado.
Uma outra idéia seria a criação de cooperativas experimentais em regime de turnos. Cada cooperativa seria dirigida por um grupo de membros da UNILUZ, o qual seria dividido em subgrupos. Haveria então uma escala que encaixaria cada um destes subgrupos em turnos de trabalho, deste modo: quando um subgrupo estivesse trabalhando na cooperativa, os demais estariam ocupando-se com os serviços de contemplação da UNILUZ. Haveria, portanto, o turno do subgrupo A, do B, do C e assim sucessivamente, e o revezamento e a rotatividade constante garantiriam que todos se ocupem mais com o Reino de Deus do que com a ansiosa solicitude pela vida. Maior é a vida do que o alimento.
Para esta finalidade, também pensamos na criação, igualmente a título experimental, de um banco de crédito popular, o qual concederia o crédito gratuito e adiantamentos de capital livre de interesses, primeiramente, às cooperativas que estivessem diretamente ligadas à UNILUZ, e, segundamente, aos produtores de outras cooperativas.
Este banco também poderia funcionar como uma entidade financiadora, a qual fomentaria, através de subsídios, a pesquisa, a criação de editoras (que publicassem livros, coletivos e revistas nas quais constassem artigos que divulgassem os resultados das pesquisas realizadas) e de ONGs.
Este banco de crédito e entidade financiadora seria mantido por uma rede de dizimistas, e estaria sob a administração direta da UNILUZ. Que seja votado, democraticamente, um estatuto para a UNILUZ (estabelecendo oficialmente, suas diretrizes e bases administrativas, tais como instituindo-se um conselho geral, um outro do tesouro, um outro editorial e assim por diante), tão logo se inicie os trabalhos desta organização.
Todavia, o início de tudo será permanecer em Jerusalém (no sentido espiritual) até que Deus derrame, lá do alto, o Seu Espírito; pois, sem Ele, nada podemos fazer. A Deus toda a glória.

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