O Caminho para a Árvore da Vida
Nos dias de hoje, a informação circula com uma velocidade nunca antes testemunhada em toda a história do gênero humano. Com o advento da internet, não apenas aumentou a velocidade com que a informação é transmitida, mas há um aumento da quantidade da informação disponível. Este processo é como que um desdobramento do que já vinha acontecendo desde a invenção da imprensa, a qual massificou o livro, tornando a informação mais disponível.
Mas, podemos indagar, o aumento da quantidade de informação foi acompanhado de um outro tanto em relação à qualidade desta informação? Hoje em dia, exige-se respostas rápidas e curtas para as questões mais difíceis que se nos apresentam. Respostas rápidas, curtas e, portanto, superficiais, indignas da complexidade que muitas vezes está presente em algum problema, fornecendo um tratamento leviano a coisas que deveriam ser levadas mais a sério. Podemos denominar isto de “cultura da superficialidade”. Temos pressa em obtermos respostas prontas e acabadas para tudo (de preferência, respostas que não exijam muita reflexão crítica, para não incomodar nossa preguiça de pensar). Esquecemo-nos que a pressa é inimiga da perfeição, como acertadamente reza o dito popular.
O que talvez possa causar uma certa estupefação, é que esta “cultura da superficialidade” tem invadido também o âmbito religioso. Quantos estão realmente dispostos nos dias de hoje a discutir os artigos de nossa fé com profundidade, de acordo com a exigência procedente da complexidade mesma deste assunto? Quantos querem de fato ultrapassar nosso conhecimento raso e simplório que temos da Palavra, a fim de nos aprofundarmos em seus insondáveis mistérios, como um desafio que está sempre sendo proposto ao espírito humano diante de um enigma fascinante? Dito de outro modo, quantos querem ultrapassar o sentido da letra da Palavra, a fim de sondar o seu sentido espiritual, mais profundo? Quantos de fato sequer imaginam que possa existir uma tal profundidade na Palavra de Deus? Por que as coisas de Deus têm necessariamente que ser baratas?
O que contribuiu muito para esta situação no âmbito da igreja de hoje foi a crença difundida pela Reforma de que os artigos de fé não são passíveis de discussão racional, isto é, a razão deve estar sob a estrita obediência da fé (vale dizer, da “fé” deles). Quando a Religião fecha o Entendimento humano para a Razão, abre os inferiores da mente para o inferno, e toda perspectiva de salvação se perde, como é muitas vezes proclamado nos Escritos da Nova Igreja.
Da mesma forma que nosso corpo natural precisa do alimento natural, nosso homem interior precisa do alimento espiritual. O Sentido Externo da Palavra deveria ser visto como uma esfinge a nos propor enigmas a serem decifrados, a fim de não sermos devorados pelo mistério. O homem entregue apenas à luz natural de sua razão jamais chegaria a conhecimento algum sobre as coisas da Religião e da Salvação. Mesmo o culto idolátrico das nações pagãs têm alguma origem na antiga Palavra que existiu antes da Palavra Israelita. Do homem entregue a si mesmo, sem alguma fonte de conhecimento, não pode vir outro culto senão o culto de si mesmo (cf. A Verdadeira Religião Cristã, nº 273). Assim é o homem sem a Palavra. Swedenborg mesmo viu povos nascidos nas Ilhas, os quais não tinham conhecimento algum sobre Deus, mas apenas sobre as coisas civis, e apareciam no mundo espiritual como esfinges.
A Alma anseia por mais luz, e todos nós temos fome espiritual. Mas o homem natural que se confirma nos falsos, ou que se apega a uma simplicidade culpável, está insensível para os apelos íntimos de sua Alma, porque é sensual. Esta cegueira impede-nos de, até mesmo, reconhecer em nosso interior um imperativo vital e, ao mesmo tempo, uma súplica: encontrar a Verdade. É certo que o sentido da letra da Palavra está adequado à compreensão dos simples e também `a das crianças; mas é um dever para nós amadurecermos, a fim de buscarmos um alimento mais sólido para as nossas Almas.
Todavia, a Palavra de Deus é o Elixir da Árvore da Vida apenas para aqueles que se aprofundam nela; que, pelo menos, em algum momento, desconfiaram que havia nela algo mais que as aparências contidas no seu sentido literal, que não são Veros nus, mas Veros aparentes (tal como podemos conferir em A Verdadeira Religião Cristã nº 257), e que, portanto, partiram em busca de mais luz e mais sabedoria, dirigindo-se diretamente ao Senhor, e não se apoiando em seu próprio Entendimento. Estes podem pelo Senhor ser introduzidos no Sentido Interno e Espiritual da Palavra. Mas para aqueles que estacionam em uma compreensão superficial desta, e não vêem nada mais que as aparências do sentido literal, a Palavra pode se tornar um veneno mortal. Isto será explicado a seguir.
O Sentido Natural da Palavra é um guarda para os veros reais, os quais estão escondidos no interior, a fim de que não sejam profanados: “(...) esta guarda consiste em que este Sentido pode ser virado de toda maneira e ser explicado conforme é tomado, sem que seu Interno seja ferido e violado; pois não é prejudicial que o Sentido da letra seja compreendido por um diferentemente que por outro; mas o que é prejudicial, é quando o homem tira dele falsos, que são contra os Divinos Veros, o que fazem unicamente aqueles que se confirmaram nos falsos; por isto, ele faz violência à Palavra; o Sentido da Letra é um guarda para impedir que isso aconteça; e que exerce esta guarda nos que estão nos falsos pela Religião e que não confirmaram estes falsos.” (A Verdadeira Religião Cristã, nº 260)
Esta guarda por parte do sentido da letra da Palavra é representada nela pelos Querubins que, após Adão e Eva terem sido expulsos do Éden, foram postos à entrada deste, ao lado do Oriente, juntamente com a chama da espada, que gira de um lado para o outro para guardar o caminho da Árvore da vida (cf. Gênesis 3: 23-24). Pelos Querubins, com efeito, é entendido a guarda; pelo caminho da Árvore da vida, a entrada para o Senhor através dos Veros do Sentido Espiritual da Palavra; pela chama da espada que gira, o Divino Vero nos últimos, o qual é como a Palavra no Sentido literal, e que pode ser virado para vários lados (isto é, pode ser explicado conforme é tomado). Os Querubins de ouro colocados sobre as duas extremidades do Propiciatório que estava sobre a Arca da Aliança, no Tabernáculo (Êxodo 25: 18-21) também significavam a mesma coisa. A Arca representava a Palavra, e os Querubins, a guarda.
É entretanto importante que se recorde que o Senhor fala no Sentido Natural, pois Ele só fala com o homem no pleno do Divino Vero, o qual se apresenta no Sentido da letra. A Palavra neste Sentido é a Palavra mesma, pois os celestes e os espirituais da Palavra estão juntos nele (conquanto o homem natural não os possa discernir, mas, sim, aqueles que se dirigem ao Senhor e são obedientes à Verdade). É por isso que o Senhor falou com Moisés entre os Querubins da Arca, isto é, no Sentido Natural. Todavia, a Palavra é como um Jardim, o qual pode ser chamado o Paraíso Celeste, onde há todo gênero de coisas deliciosas e saborosas; deliciosas em razão dos frutos, e saborosas em razão das flores. Mas é o Sentido Interno e Espiritual da Palavra a Árvore da Vida deste Paraíso.
A cegueira do homem natural para algo além do que o Sentido da letra na Palavra tem sido a causa do surgimento de heresias de todos os tipos. A Palavra não pode ser compreendida sem a Doutrina, pois é a Doutrina o archote que ilumina os veros reais a fim de sejam vistos. Tal é assim porque a Palavra é composta de puras correspondências, e muitas coisas nelas são aparências do vero, e não os veros mesmos. Tal fato também explica por que foi necessário que Deus revelasse o sentido interno da Palavra a um homem, pois sem a Doutrina contida no Escritos da Nova Igreja, jamais os internos e os íntimos da Palavra poderiam ter sido compreendidos pelo homem natural, e a lâmpada da Verdade teria se apagado no mundo.
Muitas coisas na Palavra foram escritas de acordo com a concepção do homem natural. De tal forma que os simples podem compreendê-la com simplicidade; os inteligentes, com inteligência, e os sábios, com sabedoria, e é neste sentido que a chama da espada, ao oriente do Éden, junto à Árvore da Vida, se virava para várias direções. Portanto, o homem simples da Igreja não peca em tomar as aparências como veros reais. O perigo reside em se confirmar estas aparências tomadas como veros, pois é daí que surgem as heresias. Quando as aparências são tomadas como os veros nus, tornam-se ilusões devastadoras. Os falsos confirmados permanecem e não podem ser estirpados. Por conseguinte, que Deus nos livre de nos confirmarmos nos falsos. Ao Senhor toda a glória.
Tuesday, September 27, 2005
O Caminho para a Árvore da Vida
Postado por André Figueiredo às 3:42 AM
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
0 comentários:
Post a Comment