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Tuesday, September 27, 2005

O PLEROMA GENÉTICO

A vívida consciência de nossa origem divina é o fogo do altar do sacrifício do templo do coração, o qual consome as dimensões de nosso ser que nos prendem à animalidade, à incompletude e à ilusão, libertando a alma da escuridão na qual está aprisionada, facultando-nos enxergar as coisas com visão espiritual, cósmica.
Isto não quer dizer que não devamos mais casar, ou que tenhamos que fazer voto de solidão, ou de pobreza. Quer dizer apenas que, mesmo que se tenha tudo, devemos viver como se nada tivéssemos. Não é o nosso corpo o culpado, nem é a sexualidade humana uma coisa suja. O que precisa ser queimado são a insolência, a inveja e o orgulho que estão em nossos corações.
Mas por causa do rumo que as coisas tomaram, há que se oferecer o mundo material para ser queimado e, com ele, todas as ilusões que nos aprisionam, com o fito de liberar nossa natureza divina. Este princípio opera nas esferas sensível e espiritual. Espiritualmente, este aniquilar as ilusões (especialmente, a de que é possível a felicidade fora do domínio espiritual) passa pela desconstrução da falsa idéia da existência de uma felicidade pessoal.
Por felicidade pessoal entendemos o modo de perceber a felicidade humana enquanto centrada no indivíduo, como se as pessoas não fizessem parte de um todo; como se cada indivíduo fosse uma espécie de ilha onde fosse possível a felicidade privada.
O individualismo nasce da exacerbação dessa consciência individual, isto é, dessa percepção de si como um ser separado dos demais. É daí que surgem as noções de “satisfação pessoal”, “realização pessoal” e coisas análogas.
O aparecimento da egoidade na odisséia existencial de cada um de nós, no entanto, é fundamental, pois é ela que nos dá a consciência de que somos seres únicos, singulares (o que, em proporções corretas, é essencial para a formação de uma auto-imagem saudável). Todavia, tal egoidade, tal consciência individual, precisa ser superada por uma consciência mais universal.
É a ilusão de que existe felicidade pessoal que faz com que um homem pense que pode ser feliz morando em um apartamento de luxo no Leblon, mesmo que a janela de sua sala de jantar dê para uma favela onde há milhares de semelhantes seus vivendo em condições degradantes.
Cada um de nós é parte de um todo, e a parte só é feliz quando o todo é feliz. É como o que ocorre em um corpo: quando um membro sofre, todos sofrem. Não existe felicidade pessoal porque a verdadeira felicidade é universal: cada um de nós só será feliz quando toda a humanidade for feliz. O morador do apartamento de luxo no Leblon não será feliz enquanto aquele miserável da favela não for feliz também, pois, ambos, fazem parte de um mesmo todo. É a isto que chamamos de consciência universal.
A felicidade, a alegria e a realização só serão completas se forem de todos e englobarem a todos. A idéia de que existem indivíduos autônomos é talvez uma das maiores ilusões da egoidade. A família é mais auto-suficiente que o indivíduo; o Estado, mais que a família. Uma associação de pessoas sempre é mais auto-suficiente que um indivíduo isolado, e isto só comprova a máxima de que o homem é um ser social.
Um indivíduo desempregado sucumbirá se ele permanecer sozinho. Todavia, se juntarmos dez desempregados, eles formarão uma cooperativa. Um pequeno produtor rural que tem apenas seis alqueires de terra não terá poder de negociação: nem para a venda do produto, nem para compra de insumos e de maquinário. Mas se se reúnem dez pequenos produtores rurais e juntam seus esforços e propriedades, então teremos uma grande cooperativa, a qual produzirá o equivalente a uma grande fazenda. Só assim conseguirão empréstimo tanto bancário, quanto do órgão governamental competente. Ainda é pouco conhecido o poder que tem a consciência universal.
A consciência universal é crística; ao passo que, a individual, luciferiana. O anjo caído é o grande patrono do individualismo, o qual quis emancipar-se de Deus em busca de sua felicidade pessoal. Ele achava que poderia encontrá-la criando um reino só para ele: como caíste do céu ó estrela da manhã, filho da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações! Tu dizias em teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte... (Isaías 14: 12 e 13.)
É a exacerbação da consciência individual luciferiana que está no cerne de todo materialismo e de todo hedonismo da sociedade de consumo. Está no âmago, por conseguinte, de quase todas as misérias do gênero humano. O diabo (outro nome para o anjo caído) representa o contrário de toda união e fraternidade entre os homens, pois “diabo” vem do grego, diabolos, que quer dizer caluniador, provocador de discórdia. Daí o caráter diabólico do individualismo.
A consciência universal, ou crística, por seu lado, é de onde emerge a condição heróica do amor do auto-sacrifício, o qual fez com que Cristo renunciasse a toda a sua glória para se tornar servo de todos. Jesus proclamou abertamente a consciência da unidade nossa com o todo, como atestam suas próprias palavras: Já não estou no mundo, mas eles continuam no mundo, ao passo que eu vou para junto de Ti. Pai Santo, guarda-os em Teu Nome, que me deste PARA QUE ELES SEJAM UM, assim como nós. (João 17: 11.)
São as ilusões da consciência individual que nos impedem de superá-la, a fim de que passemos a ver as coisas com os Olhos do Eterno, isto é, com visão cósmica, espiritual. A visão do espírito é a que indaga sobre razão pela qual o homem está neste mundo, bem como sobre o objetivo de nossas vidas e de toda a criação. Reside ela na compreensão de que a felicidade do homem só é possível se seus esforços estiverem de acordo com o fim para o qual foi criado.
Segundo o que foi já estabelecido pelos filósofos da Antigüidade, a filosofia prática (na qual podemos incluir a ética e a política), diferentemente da especulativa, é a que diz respeito à conduta humana e seus fins, seus bens. As ações dos homens, seus fins e seus bens, por seu turno, estão subordinados a um fim último. Este fim último é o bem supremo, e este bem supremo, de acordo com o que concluíram os filósofos em suas penosas, porém, necessárias, especulações, é a felicidade.
Todavia, uns viam no prazer e no gozo a fonte de toda felicidade; outros, na riqueza, na glória e na honra. Sócrates, Platão e Aristóteles, em contrapartida, combateram estas concepções materialistas de felicidade. Para eles, a felicidade residia para o homem naquilo que o diferencia dos outros animais, vale dizer, na contemplação e no viver conforme a razão.
Por contemplação entendemos a busca pela verdade, na indagação constante por ela. A função da ignorância é a de despertar no coração dos homens a vontade de serem instruídos. O bem supremo, com efeito, consiste na adequação de cada coisa ao fim para o qual existe.
Há duas palavras em grego para fim: éscathon (de onde vem o termo escatologia, em português) e télos (que deu origem, por sua vez, ao vocábulo teleologia). Éscathon designa o fim no tempo, a morte: a destruição; Télos, entretanto, o fim na forma, a meta a ser alcançada, o auge, a conclusão de um processo (como quando um artista conclui sua obra de arte).
Télos também pode designar o fim na acepção de finalidade, de função de alguma parte dentro de um todo e em relação a este todo (como quando dizemos que a finalidade da vista no corpo é a visão). Quando dizemos que o bem supremo está na realização do fim de cada coisa, referimo-nos ao fim na forma.
O fim na forma é o que chamamos de pleroma, palavra do grego que quer dizer plenitude, a qual é simbolizado por nossa rosa aberta, no auge de seu desabrochar. Que há um pleroma dos tempos, é o que podemos conferir no Novo Testamento: Mas vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos.(Gálatas 4:4) A palavra que aparece traduzida no texto como “plenitude”, em português, é pleroma, no original grego.
A escatologia só consegue ver o decrescimento da involução porque só contempla as aparências: é puramente fenomenológica. A teleologia, por outro lado, transcende esta visão física limitada e contempla o florescimento das coisas da perspectiva de seu poder de aparição (que é sua promessa de plenitude), ainda que latente e não manifesto. Pois toda manifestação é impulsionada, guiada e endereçada a uma finalidade, a um todo que dá sentido às partes, a uma enteléquia que anima todo o processo, constituindo-se na alma e na essência do que está florescendo: em sua latência e processo.
O escatólogo dá ênfase ao fim do mundo no sentido de sua destruição e nada mais. É como se alguém visse o Davi de Michelangelo ainda inacabado e não somente o achasse horrível, mas, também, impossível de ser melhorado. A forma é algo puramente espiritual, e ela existe, num primeiro momento, apenas mentalmente, para, depois, expressar-se, demiurgicamente, na matéria. A forma do Davi de Michelangelo sempre foi bela na mente deste artista, mesmo antes que o mármore começasse a ser trabalhado.
Com efeito, a visão do escatólogo é sombria e sem esperança, pois ele olha a matéria desforme e inacabada e acha que não existe nada mais além disso. O teleólogo, porém, mesmo em meio à condição inacabada do mundo (razão da existência do mal) contempla com o olho do espírito o fim glorioso a que se dirige o devir histórico. Esta é a visão profética. O escatólogo contempla a matéria; o teleólogo, a forma, o pleroma.
O homem não foi criado para correr atrás de um pão ou de uma papa miserável e tampouco deve ele ocupar os mesmos estábulos que os bois e os asnos. Nossa felicidade está em ser um colaborador na criação do universo. Isto significa participar dos seis dias da criação, obrando para que todas as coisas alcancem o seu pleroma genético (isto é, a plenitude dos poderes divinos de todas as coisas e de toda a criação), como um sacerdote da natureza. Ser um sacerdote da natureza significa ajudá-la em todos os seus processos.
Ser um colaborador de Deus no programa da criação implica em OBRAR PARA A CONSTRUÇÃO DO PARAÍSO TERRESTRE. Isto ocorre todas as vezes que trabalhamos para o benefício de nossa geração e, inclusive, das vindouras, não apenas para o nosso bem estar pessoal. Tal fato dá-se quando o labor humano é orientado pela consciência crística, universal.
Há que se transmutar nosso desejo egoísta de receber apenas para nós próprios em desejo de receber para compartilhar, como dizem os místicos judeus. Os grandes cientistas e inventores que verdadeiramente trabalharam para o progresso da humanidade podem ser contados entre os obreiros de Deus. Digo isto porque o Paraíso Terrestre também é construído pelo esforço criativo do homem, do qual a ciência e a tecnologia são expressões.
Instaurar o Paraíso Terrestre significa laborar no sentido do bem e do progresso da humanidade. Isto pressupõe investir no potencial humano; investir no talento enquanto ele ainda é imaturo; acreditar na capacidade das pessoas mesmo enquanto elas ainda não estejam prontas e acabadas. Por conseguinte, implica em lutar pelas verdadeiras bases da civilização (cujo arquétipo é a Nova Jerusalém) contra a barbárie; pela causa da liberdade de pensamento; pela causa do ensino e sua infindável luta contra a ignorância. A felicidade humana está no estudo, no desenvolvimento das virtudes e das habilidades, bem como na prática da caridade para com nosso próximo.
Há que se reabilitar o valor da vida humana questionando todo progresso e todo crescimento econômico que não tenha como finalidade a vida. Há também que se repensar a relação do homem com o meio ambiente, para o cumprimento do propósito original para o qual o homem foi criado: transformar o nosso planeta num jardim idílico, e é esta a idéia que subjaz ao trecho das Escrituras que se segue: Esta é a gênese dos céus e da terra quando foram criados, quando o Senhor Deus os criou. Não havia ainda nenhuma planta do campo na terra, pois ainda nenhuma erva do campo havia brotado; porque o Senhor não fizera chover sobre a terra, e também NÃO HAVIA HOMEM PARA LAVRAR O SOLO. (Gênesis 2: 4 e 5.)
Isto acontece quando refinamos nossa vontade e o nosso desejo para que eles possam ser um com a vontade e desejo do Eterno. A Bíblia começa com um paraíso ecológico (o jardim do Éden), e termina com um paraíso social: A Cidade de Deus. Há um rio cristalino que nasce do Trono do Eterno, na Nova Jerusalém. Se fosse nas cidades de hoje, este rio se tornaria um depósito de esgoto.
A Nova Jerusalém vem sendo construída através dos séculos. O aparecimento do ambientalismo e do ecologismo, a expansão e democratização do ensino, a Declaração Universal dos Direitos do Homem, a abolição da escravatura, embora de maneira ainda muito imperfeita, são sinais claros do despontar da civilização iluminada no horizonte da história.
A descoberta da penicilina e a da vacina contra a paralisia infantil são apenas alguns dos muitos exemplos de conquistas que constrõem a civilização iluminada. A nossa vontade e o nosso desejo tornam-se unos com a vontade e o desejo do Eterno quando os direcionamos para o bem de todos.
Alguns poderiam indagar: “Mas o Paraíso Terrestre não será estabelecido num piscar de olhos pelo poder de Deus?” Todos conhecemos o relato contido nas Escrituras acerca da construção do Templo Sagrado pelo Rei Salomão. Poderíamos também indagar: “Por que Deus não fez aparecer o Templo num piscar de olhos?” Isto custaria menos esforço para o homem, mas, em compensação, ele estaria privado do prazer de se entregar a uma maravilhosa obra criadora. Assim é também relativamente à construção do Tabernáculo cósmico, da Catedral da Humanidade (pois o planeta é o Templo), do Paraíso Terrestre.
O homem é um colaborador de Deus para a construção do Paraíso Terrestre através do trabalho criativo. Temos mais do que evidências nas profecias bíblicas de que o Reino de Deus manifestar-se-á em sua plenitude aqui na terra, tal como podemos conferir no Salmo 37: Porque os malfeitores serão exterminados, mas os que esperam no Senhor possuirão A TERRA. (Salmo 37: 9.)
O que pode ser uma novidade para muitos é a revelação de que o agente do Eterno para esta transformação no plano físico é o homem, o GUARDIÃO DO PLANETA TERRA, o ANJO TERRESTRE.
O labor criativo, demiúrgico, tem como marca o poder de beneficiar todas as criaturas. Ele dá concretude ao projeto social divino, de acordo com o modelo celestial contido na planta do Supremo Arquiteto do Universo.
Quando o Apóstolo João mede com uma cana o santuário, isto é, a Catedral da Humanidade, a qual está inacabada (pois o Paraíso ainda não está pronto), está avaliando, de acordo com o modelo cósmico, o quanto a obra já avançou através da história: Foi-me dado um caniço semelhante a uma vara, e também foi dito: Dispõe-te, e mede o Santuário de Deus, o seu altar, e os que nele adoram... (Apocalipse 11: 1)
Isto é similar ao que faz o mestre de obras quando sai medindo as estruturas do Templo em construção, a fim de verificar se suas medidas estão de acordo com as requeridas pela forma desejada, isto é, pelo modelo na planta do arquiteto. O Templo de Deus é o lugar onde Ele habita: Ele, o Eterno, está construindo uma casa para sua morada .
O trabalho, com efeito, tem que fazer sentido, deve ser racional, vale dizer, deve ser endereçado ao bem comum, entendendo que a felicidade humana não está no trabalho, mas, como temos visto, na busca da verdade, no estudo, na virtude e na caridade. Não pode ser cego e maquinal, no qual a pessoa é forçada a trabalhar em qualquer coisa (mesmo contra a sua natureza, o que constitui uma agressão ao homem) em troca de um pão ou de uma papa.
A marca de nossa sociedade materialista e consumista, é o desperdício. Mas o pior desperdício é o de potencial humano. O trabalho racional é criativo, e desperta o desenvolvimento de todas as habilidades latentes do homem: o homem demiúrgico é o homem integral.
Quantas vidas humanas estão sendo jogadas fora em trabalho repetitivo e inútil (e, às vezes, até perigoso), tanto para elas como para a sociedade como um todo, contra a vontade delas, movidas que estão pela ânsia de encherem seus estômagos. Isto não é civilização. É desse jeito que milhões de seres humanos vivem como animais fazendo o que odeiam e desperdiçando sua juventude e energia vital.
O trabalho inútil e sem perspectiva, ou contrário à vocação de cada um e às finalidades da vida, é escravidão e deve ser combatido como tal, de acordo com a Declaração Universal do Direitos do Homem. O Paraíso Terrestre também é construído pela aplicação das Leis que regem a civilização social.
Se este Paraíso Terrestre tem sido construído pelo Eterno com a intensa colaboração do homem, e se é certo que a Ciência e a Tecnologia têm um papel decisivo na ampliação do raio de ação do trabalho criativo humano (sendo elas próprias frutos da criatividade humana), então, por que as conquistas nesses campos também conduziram à construção de instrumentos de destruição, como, por exemplo, a bomba de hidrogênio?
Qualquer Ciência ou Tecnologia pode ser tanto um instrumento de vida e de superação dos fatalismos, como de morte. Para que ela se torne um meio potencial de se construir um mundo melhor, o ódio que há no coração do homem deve ser convertido em amor. Há que se haver uma reforma interior no homem, tal como preconizamos no terceiro capítulo deste livro.
Todo progresso de ordem moral que não é acompanhado do equivalente de ordem intelectual, tem gerado o sentimentalismo e o obscurantismo. Por outro lado, o avanço intelectual (como o que temos testemunhado no campo da Ciência, hodiernamente) sem a devida elevação moral e espiritual tem engendrado a crueldade. A solução está na reconciliação dos domínios da ciência (que tem tutelado o progresso intelectual) e da fé (que é o espaço da elevação moral). Mas esta reconciliação não pode ser artificial; deve ser uma conseqüência natural do progresso de ambas e da maturidade intelectual e espiritual da humanidade. O problema não está nem na ciência, nem na tecnologia, mas no ódio e na ignorância, que ainda existem no coração do homem.

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