A Civilização Ocidental vem cultivando, desde os tempos da Renascença (mas principalmente a partir do Iluminismo) uma atitude radicalmente crítica diante da tradição. Questiona-se qualquer autoridade que não seja a razão mesma (o que não quer dizer que a razão não tenha mesmo autoridade). Embora isso se explique em virtude dos excessos cometidos pelo autoritarismo medieval, esta conduta tem conduzido ao desprezo e `a desconfiança face a tudo aquilo que possa ser antigo. O ideal iluminista do livre exame (o qual preconiza o livre exercício crítico da razão) foi um grande avanço numa época em que o Papa era Deus na terra, mas trouxe muitas distorções também.
A mais perversa de todas as distorções é a crença segundo a qual tudo que é moderno é bom, e tudo que é antigo é ultrapassado, a qual se funda num evolucionismo cultural preconceituoso, racista e falso. O homem da Antigüidade seria uma espécie de quadrúpede bovinamente perplexo, ao passo que a vida inteligente sobre a terra começaria apenas com o homem contemporâneo, mais especificamente, com o homem europeu contemporâneo. Tal conduta poderia ser considerada como tipicamente etnocêntrica, do ponto de vista antropológico.
Todavia, os Escritos nos ensinam que, num tempo muito remoto da história da Humanidade, houve uma idade de ouro, cantada pelos poetas, uma época santa e feliz, na qual a palavra escrita era desconhecida, e na qual os homens tinham uma comunicação direta com os anjos. E mesmo nas eras da prata e do bronze, então não mais tão felizes, ainda se conservou uma certa inocência entre os homens. Nestes tempos já havia a escrita, mas muito conhecimento se perdeu destes tempos abençoados.
Lemos em Gênesis 26, versos de 18 a 22: E tornou Isaque, e cavou os poços de água que cavaram nos dias de Abraão seu pai, e que os filisteus taparam depois da morte de Abraão, e chamou-os pelos nomes que os chamara seu pai Abraão. Cavaram pois os servos de Isaque naquele vale, e acharam um poço de águas vivas. E os pastores de Gerar porfiaram com os pastores de Isaque, dizendo: Esta água é nossa. Por isso chamou o nome daquele poço Eseque, porque contenderam com ele. Então cavaram outro poço, e também porfiaram sobre ele: por isso chamou seu nome Sitna. E partiu dali, e cavou outro poço, e não porfiaram sobre ele, por isso chamou o seu nome Reobote, e disse: Porque agora nos alargou o Senhor, e crescemos nesta terra.
O sentido interno desta passagem mostra-nos coisas que nos impressionam pela profundidade e beleza de sua revelação. Sobre o verso 18, “E tornou Isaque e cavou os poços de água que cavaram nos dias de Abraão seu pai”, isto significa que o Senhor abriu aquelas verdades que estavam com os antigos; “e que os filisteus taparam depois da morte de seu pai Abraão”, isto significa que aqueles que estavam nos meros conhecimentos de memória deturparam e torceram aquelas verdades; “e chamou-os pelos nomes”, significa a qualidade delas; “que os chamara seu pai Abraão” denota representativos de verdade.
O sentido espiritual da Palavra possui conhecimentos que se perderam há muito, mas que eram bem conhecidos dos homens dos tempos antigos, os quais eram espirituais, e sabiam acerca de muitos mistérios do universo. Perscrutar estas verdades na Palavra seria similar a cavar um poço, o qual representa o literal da Palavra, para se encontrar água, a qual representaria estas verdades espirituais contidas nos internos da Palavra. Note que o texto também diz que o poço foi entulhado com terra, isto é, com coisas terrenas e mundanas. É isso que a Igreja de hoje faz, interpretando a Bíblia literalmente apenas, e recorrendo a Freud e Marx, à psicologia moderna, ao criticismo profano e secular (isto é, coisas muito terrenas) para a sua interpretação.
E sobre os versos de 19 a 21, “Cavaram pois os servos de Isaque naquele vale, e acharam um poço de águas vivas”, isto significa o sentido literal da Palavra no qual está o sentido interno; “E os pastores de Gerar porfiaram com os pastores de Isaque”, significa que os que ensinam a Palavra não viram um tal sentido lá, porque os sentidos são opostos; “dizendo: Esta água é nossa”, significa que eles estavam na verdade; “Por isso chamou o nome daquele poço Eseque, porque contenderam com ele”, denota a recusa destes princípios tanto quanto de outros; “Então cavaram outro poço, e também porfiaram sobre ele”, significa o sentido interno da Palavra, sobre se ele existe; “por isso chamou seu nome Sitna”, expressa sua qualidade.
Note que aí se desenvolve uma polêmica, a qual representa a celeuma que existe hoje quando alguém houve falar que existe um tal sentido espiritual na Palavra. Isto se deve em grande parte a que não há, em alguns casos, nada no literal que insinue o seu sentido interno. Mas a principal razão para isto está em que o homem da igreja de hoje é excessivamente sensual, e não pode ver nada além do histórico e temporal.
No tocante ao verso 22, “E partiu dali”, significa que desceram para as coisas de um grau mais baixo; “e cavou outro poço, e não porfiaram sobre ele”: isso significa o sentido literal da Palavra; “por isso chamou seu nome Reobote”, denota sua conseqüente qualidade enquanto verdade; “Porque agora nos alargou o Senhor”, significa a multiplicação sucessiva da verdade; “e crescemos nesta terra”, isto significa a sucessiva multiplicação do bem.
Isto quer dizer que as verdades Divinas são tais que elas não poderiam ser compreendidas por algum anjo, ou por algum homem, senão por meio de aparências de verdade, as quais são acomodações da Divina e infinita verdade à compreensão dos anjos e dos homens. A conjunção com o Senhor acontece através desses veros naqueles que pertencem ao Seu reino, tanto no céu como nas terras.
Com os anjos, esta conjunção se dá através de aparências de verdade de um grau elevado (isto é, pelas aparências de verdade do sentido interno da Palavra); com os homens, por meio das aparências de verdade em um mais baixo grau (vale dizer, pelas aparências de verdade do sentido externo da Palavra). É só por meio destas aparências que e verdade e o bem podem ser multiplicados na igreja.
Tuesday, September 27, 2005
O POÇO DAS ÁGUAS VIVAS
Postado por André Figueiredo às 7:42 AM
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